
Depressão: quando o passado se torna sua prisão
A depressão muitas vezes nasce de um lugar silencioso: a insistência em viver preso ao que já passou. É como se a mente construísse um quarto escuro feito de memórias, dores e narrativas antigas, e então acreditássemos que aquele espaço limitado é toda a nossa realidade.
O condicionamento do passado cria identidades rígidas: “sou assim porque aquilo aconteceu”, “não consigo porque um dia fracassei”, “não mereço porque já fui ferido”. Essas frases se tornam muros internos, nos fazendo confundir o que vivemos com quem realmente somos.
Mas a verdade é que você não é suas experiências. O que aconteceu faz parte da sua história, mas não define a totalidade do seu ser. A identificação excessiva com o passado é como carregar uma mochila cheia de pedras: cada lembrança dolorosa adiciona peso, até que andar se torna quase impossível.
A depressão se alimenta dessa ilusão: a de que não existe nada além do já vivido, a de que estamos condenados a repetir a dor. Mas isso não é realidade — é apenas o olhar distorcido de uma mente cansada e condicionada.
O convite para quem sofre não é “esquecer” o passado, mas ressignificá-lo. Olhar para ele com compaixão, compreender que foi parte de um processo, e então escolher não se reduzir a ele.
Quando soltamos a identificação com o que vivemos, abrimos espaço para um presente que pulsa, vivo e renovado. O agora não carrega as correntes do ontem. O agora é sempre possibilidade.
A cura começa quando reconhecemos: eu não sou minha dor, não sou meu trauma, não sou apenas minha história. Sou muito maior que tudo o que já aconteceu comigo.